Após laudo técnico, moradores da Vila Santa Terezinha são notificados sobre alto risco de novos deslizamentos

Após laudo técnico, moradores da Vila Santa Terezinha são notificados sobre alto risco de novos deslizamentos

Fotos: Thais Immig

Na Vila Santa Terezinha, famílias tiveram casas interditadas, e quem ficou convive com a insegurança. Localizada no Bairro Chácara das Flores, e próxima a um dos morros que circundam a cidade, que não à toa é chamada de Boca do Monte, o local foi mapeado pela Defesa Civil como área de risco


Isso porque um laudo geológico realizado pela prefeitura de Santa Maria apontou 35 residências com risco alto (R3) e muito alto (R4). Mais do que perigo, o resultado do estudo aponta a urgência em sair de casa e incertezas em relação ao futuro de quem reside no local.


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Na Rua Rodrigues Alves, pedras soltas, alagamentos e o solo escorregadio dificultam qualquer travessia. No trecho que fica na esquina com a Rua Xingu, oito famílias deixaram as residências. Na porta, um aviso de “área interditada” foi colocado na porta. Moradores que ainda permanecem no local relatam que, nos primeiros dias de maio, um deslizamento de terra no morro que fica próximo à Vila Santa Terezinha causou instabilidade e danos no local.


Rua Rodrigues Alves, na Vila Santa Tereza

A dona de casa Marisete Costa da Silva, 45 anos, mora a vida toda na Rua Xingu e nunca pensou em mudar de endereço. Mas o local, antes seguro para morar com toda a família, agora traz incertezas e a possibilidade de uma mudança não programada. Segundo ela, o resultado do laudo, os alagamentos frequentes e a instabilidade do solo na rua e no pátio das casas têm feito parte da rotina de quem permanece.

Ninguém fala nada com nada, as casas estão interditadas. Eles (prefeitura e Defesa Civil) não estão nos explicando certo o que está acontecendo. Veio um geólogo aqui, subiu o morro com alguns moradores e ficaram de nos trazer um laudo. E nossa situação está assim: rua alagada, [programa] Aluguel Social não tem, as casa rachadas e eles não vem aqui dar uma posição para nós – desabafa a moradora.

Até a sexta-feira (21), oito residências foram interditadas pela Defesa Civil. Nesses locais, são visíveis as rachaduras em toda a estrutura, o desnível do pátio e o vazio de quem precisou sair de casa. Marisete conta que pelo menos quatro famílias alugaram casas em outro local, sem pretensão de voltar. Como ainda não tinham sido contempladas pelo Programa Aluguel Social, elas têm custeando o valor da locação – já que a casa no Bairro Chácara das Flores era própria.

Estamos bem tristes porque são pessoas que conhecemos, nossos vizinhos. Todos nos criamos aqui, então é bem ruim – afirma Marisete.

Oito casas já foram interditadas no local


“É assustador cada vez que ouço o barulho da chuva”

Na madrugada desta sexta-feira (21), a diarista Maria Antônia Ferreira Rangel, 58, não conseguiu dormir e não foi por falta de sono. O retorno da chuva trouxe de volta o medo de que parte da casa desmorone com tamanhas rachaduras do lado de fora, na cozinha e no quarto. Situação que, segundo ela, tem se agravado a cada nova chuva. No canto do quarto, uma mala pronta, caso precise sair às pressas.

– Essas rachaduras não tinham. E cada vez aumenta mais e o chão cedendo… O perigo a gente sabe que existe e dormir, não tem como. Querer sair não queríamos, mas precisamos. Também precisamos de alguma atitude, alguma ajuda, para ontem. Não tenho nem palavras pra dizer a insegurança e o medo… É um terror, assustador mesmo cada vez que ouço o barulho de chuva ou trovão. Então, precisamos de um lugar seguro para morar porque aqui é meu. É simples, mas é meu – afirma a diarista.

Maria Antônia convive com a insegurança de residir próximo ao deslizamento na Vila Santa Tereza

Moradores como Maria Antônia e Marisete ainda relatam que os deslizamentos fizeram com que deixassem as casas de forma preventiva no início de maio. Sem condições de custear uma mudança, tiveram que voltar e, por isso, aguardam auxílio das autoridades para deixar as áreas de risco de forma permanente.


Alto risco no local e mais notificações de saída

Após as chuvas da primeira quinzena de maio, oito residências foram evacuadas e na tarde desta sexta-feira, moradores voltaram a ser notificados. Conforme o chefe de gabinete do prefeito, Alexandre Lima, um laudo atualizado da área da Vila Santa Tereza foi finalizado. Os resultados mapeiam outras residências com risco muito alto (R4) de deslizamento (veja glossário abaixo). A partir disso, moradores foram notificados, de forma individual, do risco e orientadas a deixarem as casas. Ainda segundo Lima, essas pessoas estão aptas a serem beneficiadas por programas como o Aluguel Social.

– Na Vila Santa Terezinha, de maio para cá, houve a movimentação de massa. Então, continuam os alertas, as R4 e as notificações da prefeitura. E também oferecendo os programas sociais de acolhimento – diz. 


Monitoramento segue no Morro do Cechella e na Vila Bilibio 

Outras áreas de risco em Santa Maria continuam monitoradas em Santa Maria. Desde o início de maio, quando um deslizamento causou a morte de mãe e filha por soterramento no Morro do Ceclla, moradores têm deixado a área pelo risco de uma nova tragédia. Conforme a Defesa Civil, os principais pontos de atenção são a Rua Canário, a Vila Churupa e a Vila Burguer, todas no Bairro Itararé. No local, mais de cem moradores deixaram o entorno do morro pelo risco de novos desmoronamentos e estão no aguardo de definição sobre o futuro da área. Alguns já optaram pelo Programa Aluguel Social, da prefeitura.

A volta da chuva também levou à evacuação de famílias na Vila Bilibio, no Bairro Km 3. No dia 14 de junho, residências com alto risco (R4) foram notificadas e saíram de casa de forma preventiva. Assim que a chuva der trégua, a Defesa Civil deve fazer uma nova vistoria de local para verificar a possibilidade de retorno dos moradores.

Em maio, a prefeitura realizou um levantamento para reconhecer as zonas de instabilidade geológica da Bilibio. O trabalho foi averiguado por meio de monitoramento de áreas suscetíveis a movimentação de massas e as diferentes zonas de ocorrência de instabilidade de encostas. Os resultados apontam para a ocorrência de diversos pontos de deslizamento e de abertura de trincas em diferentes locais, os quais ainda não apresentaram condições de estabilidade geotécnica, ou seja, ainda apresentam sinais de movimentação. Dois locais têm grau R4 (risco muito alto) na Bilibio, o que reforça a urgência da retirada dos moradores.

– Nós reiteramos a interdição da rua principal da Bilibio. Na semana passada, nós notificamos os moradores de forma individual e passamos com o carro de som. E também autorizamos a Corsan a fazer a religação da água de forma provisória em uma área que não apresenta risco – afirma Lima


Um glossário dos termos do laudo geológico:

  • R1 (Baixo): Drenagem ou compartimentos de drenagem sujeitos a processos com baixo potencial de causar danos e baixa frequência de ocorrência. 
  • R2 (Médio): Drenagem ou compartimentos de drenagem sujeitos a processos com médio potencial de causar danos, média frequência de ocorrência=. 
  • R3 (Alto): Drenagem ou compartimentos de drenagem sujeitos a processos com alto potencial de causar danos, média frequência de ocorrência e envolvendo moradoras de alta vulnerabilidade.
  • R4 (Muito alto): Drenagem ou compartimentos de drenagem sujeitos a processos com alto potencial de causar danos, principalmente sociais, alta frequência de ocorrência e envolvendo moradias de alta vulnerabilidade. 


Chuvas recentes causam danos em outros pontos da cidade

Em outros pontos da cidade, o retorno da chuva causou danos e agrava dificuldades já existentes em decorrência das enchentes de maio. Em junho, os acumulados registrados já somam 281,3 milímetros, conforme a BaroClima Meteorologia. O número ultrapassa a média de 132,7 milímetros prevista para o mês. No Bairro Passo das Tropas, buracos na Rua Antão tem aumentado e dificultado a travessia de carros e pedestres. A auxiliar de cozinha, Luciane Dos Santos Nunes, 36 anos, mora há mais de 13 anos no local e acompanha de perto o agravamento da situação:

Está horrível. Quando chove, a água alaga toda a rua. A nossa boca de lobo da esquina está entupida, e a rua está cheia de buracos.


Chuva observada em Santa Maria

*da meia noite até às 13h10

  • Perpétuo Socorro 85mm
  • Camobi Novo Horizonte 71mm
  • Tecnoparque 66mm
  • Lorenzi 57mm
  • Camobi INMET 55mm
  • Localidade Estância Velha 45mm


Chuva observada na região

*da meia noite até às 13h10

  • Santiago 83mm
  • Júlio de Castilhos 73mm
  • Jaguari 69mm
  • Tupanciretã 68mm
  • Nova Palma 67mm
  • São Francisco de Assis 63mm
  • São Vicente do Sul 62mm
  • Restinga Sêca 62mm
  • Cacequi 61mm
  • Agudo 60mm
  • Faxinal do Soturno 59mm
  • Silveira Martins 57mm
  • São Sepé 48mm
  • São Gabriel 44mm
  • Rosário do Sul 40mm
  • Caçapava do Sul 37mm
  • Cruz Alta 36mm


Confira a previsão do tempo para o final de semana: 


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